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Mudam-se os tempos, mudem-se as vontades.

Novembro 10, 2011

Eu podia invocar Camões: “Todo o mundo é composto de mudança/ Tomando sempre novas qualidades.” E invoco mesmo…e afirmo como ele “Que não se muda já como soía”, ou seja, não se muda como se costumava mudar. O poeta, espanta-se, perplexo, com a novidade desta mudança que não compreende, que foge à habitual forma de mudar.
E como é que se costumava mudar? Pois bem, uns mudavam e outros aceitavam, iam atrás. Foi assim que fomos educados…alguém mudava por nós e quando não mudava, aceitava-se também a imobilidade, o marasmo. Acentua-se aqui a aceitação da mudança, ou não, e o facto de isso ser exterior a nós. Não éramos agentes da mudança, mas pacientes. Não éramos ativos, mas passivos. E agora?
Já referi noutros textos que nós, portugueses, não gostamos de mudar. Temos rotinas, temos percursos, temos hábitos, temos estatutos, temos ideias e tudo quanto seja novo e nos peça mudança é visto como um estorvo, uma “chatice”, uma “modernice”, quando não uma exibição pessoal e manifestação egocêntrica. Pois é… foi sempre assim, porque somos produtos de uma forma absolutista de pensamento: “tu não precisas pensar, eu penso por ti”. E nós…aceitamos. Todos?
É sabido que defendo a autonomia do autocaravanismo em relação ao campismo e caravanismo, a separação formal com estas duas atividades com as quais, reconheço, há pontos comuns (desde logo a origem) mas muitos mais pontos divergentes, como já explanei noutros escritos. Não renegando esta origem comum, o que nos separa é já tão evidente, que me parece quase patético tentar agarrar e manter agarrado o autocaravanismo ao campismo e caravanismo. Mais sensato seria, a meu ver, que as federações campistas que reclamam para si a inclusão do autocaravanismo, perante este desejo de autonomia, mudassem e reconhecessem que os tempos e as tecnologias ditaram diferenças que são incomparáveis. Na sequência, também me parece que clubes, associações ou outras agremiações autocaravanistas que se mantêm associados a estas federações, não compreenderam nem acompanharam a evolução que o autocaravanismo teve nos últimos tempos, em números, em tecnologia, em autonomia, em mobilidade… Acaso não pensam por si? Têm receio de se autonomizar ou juntar a outros que já assumiram a sua autonomia? Talvez tenham perdido a oportunidade de o fazer e por orgulho envergonhado não o fazem…
Um fórum autocaravanista cortou há tempos a ponta que o unia ao caravanismo. E fê-lo, se bem me lembro, por ter chegado à conclusão que se representavam duas realidades já muito diferentes, aqui e ali com pontos de interesse comuns mas que traçavam destinos diferentes.
A isso chamo mudança, por vezes fraturante, por vezes dolorosa, mas são as dores do crescimento.
Por mim, aceito a mudança, não me espanto como Camões: vivo noutra era, sou moderno, interpreto o correr dos tempos.
Parafraseando o anuncio da TV, podia aceitar que uma federação contivesse uma secção de AC, mas se tiver uma outra devotada exclusivamente ao AC, não será certamente a mesma coisa.

A todos, bons ventos de mudança.

3 comentários leave one →
  1. Novembro 10, 2011 09:25

    Mais uma bela lição, Sr. Professor. O problema é que os destinatários são “surdos”. Sendo o pior surdo aquele que não quer ouvir!

  2. Mário permalink
    Dezembro 10, 2011 18:28

    Olá
    Sempre que posso dou uma “volta” por aqui,e gosto das “paisgens” que observo.
    Esclarecido e claro como poucos.

    Abraço.
    Mário

    • viajantelusitano permalink*
      Dezembro 12, 2011 17:49

      Companheiro Mário: faz falta também a acutilância nos comentários que fazia. Abraço

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